domingo, 29 de novembro de 2009

QUINTA DA REVOLTA - DOURO


Esta genuína Quinta, desde há muito propriedade da família Moreira da Silva, tem vindo a ser objecto de consideráveis obras de recuperação e melhoramento, nomeadamente, no que concerne às suas condições de vinificação e guarda de vinhos.
A sua adega está agora melhor equipada e bastante funcional sem que o seu aspecto visual e arquitectónico tenha sido minimamente descurando, encontrando-se perfeitamente harmonizada quer com a construção local, quer com a paisagem envolvente.
Situada bem próximo da cidade da Régua, na designada sub-região do Baixo Corgo, esta Quinta possui uns vinhedos muito bem tratados e com excelentes exposições solares.
Favorecendo a plantação de uvas de elevada qualidade, tem vindo a presentear-nos todos os anos com vinhos inovadores e de carácter muito próprio.  
Esta empresa, cujos trabalhos de enologia estão actualmente a cargo da dinâmica e proactiva dupla Gabriela Canossa e Vitor Carvalho, tem vindo a demonstrar um especial interesse quer pela inovação e investigação, quer pela reabilitação de castas actualmente pouco plantadas ou até mesmo quase abandonadas como são, respectivamente, a Tinta Francisca e a Touriga Fêmea.
Na recente visita que fiz a esta Quinta, onde fui ciceroneada pelos seus referidos simpáticos enólogos, pude conhecer os actuais vinhos desta casa, dando-vos agora nota das minhas impressões pessoais sobre alguns deles, deixando para um próximo comentário, até para não tornar esta exposição demasiado longa, os seus vinhos generosos e aquele que considero ser o seu grande porta estandarte – o CORPUS. 

QUINTA DA REVOLTA ROSÉ 2008
De tom rosado meio pálido, este rosé foi fermentado sob rigorosas condições de temperatura e revela toda uma vivacidade inerente à fermentação de sangras frescas das mais nobres castas tradicionalmente enxertadas no Douro, como são a Touriga Nacional, a Touriga Franca, a Tinta Roriz e a Touriga Fêmea.
No nariz evidência um aroma muito frutado, a lembrar frutos vermelhos tais como morangos, cerejas e framboesas, acompanhados bem de perto por fortes laivos vegetais.
Na boca mostra-se muito refrescante, com elevada acidez e uma generosa dose de mineralidade a conferir profundidade e complexidade a todo o seu conjunto.
Estamos perante um rosé bastante seco, com um perfil muito próprio e diferente do que tem sido habitual encontrar num mercado cada vez mais apetrechado de vinhos rosados. Uma moda que parece ter vindo para ficar.
Bastante gastronómico, característica que se confirma também pelo seu elevado teor alcoólico, este vinho possui um final de boca bastante elegante e reconfortante.
Nota Pessoal: 16,5                                                     P.V.P.: 5 - 6 €
QUINTA DA REVOLTA RESERVA 2007        

Este blend tipicamente duriense resulta da junção de quatro nobres castas provenientes de vinhas velhas, a saber: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Tinta Amarela.
De cor marcadamente ruby, o seu nariz revela acentuados aromas a ameixas pretas e frutos do bosque muitíssimo bem alicerçados em elegantes notas especiadas.
Com uma boa prova de boca, este Reserva demonstra grande potencial, apregoado pelas suas notáveis frescura e acidez e os seus refinados toques de tabaco e de ligeiro couro.
Se é verdade que o seu estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês ainda se faz sentir, também não é menos verdade que um certo tempo em cave tudo irá harmonizar.
Um vinho complexo, cheio de personalidade, um vinho com uma pretensão plenamente justificada, cuja enorme complexidade e requintado carácter me deixaram boas recordações e elevadas perspectivas.
Nota Pessoal: 16,5                                                        P.V.P.: 7 - 8 €
QUINTA DA REVOLTA TINTA FRANCISCA 2006
De cor intensamente granada, este vinho resulta de mais uma aposta ganha por parte desta empresa - a de persistir na plantação de uma casta pouca acarinhada nas últimas décadas e a da sua apresentação a solo, quando o mais habitual parece ser a sua utilização em vinhos de lote.
Um tinto que revela uma elevada finesse aromática, com muita fruta preta e madura de boa qualidade assente numa cama composta por subtis notas balsâmicas e suave pimenta preta.
Na boca mostra-se muito fresco, com uma boa e estruturante acidez, muito poderoso e com um final de grande comprimento.
No entanto, os seus taninos apresentam-se ainda algo rebeldes, como que a requerer ainda um certo período de acalmia em garrafa.
Trata-se efectivamente de um vinho guloso e com garra, cuja complexidade conferida por um prolongado estágio em madeira, aconselha e merece um adequado descanso em cave, por forma a que ele nos venha a demonstrar todos os seus fortes argumentos.
Nota Pessoal: 16                                                            P.V.P.: 12 - 13 €
QUINTA DA REVOLTA TOURIGA FÊMEA 2007

Este vinho, vinificado segundo as mais rigorosas práticas enológicas, foi elaborado exclusivamente a partir da quase extinta Touriga Fêmea, casta que se caracteriza por uma baixíssima produção e uma grande concentração fenólica e aromática.
Muito concentrado na cor, este curioso vinho possui um nariz deliciosamente apelativo e inebriante. As suas notas de fruta preta e bem madura, misturadas com nobres sensações de mato, fazem dele um amante surpreendente.
Na boca apresenta-se encorpado e macio, com uma acidez muito correcta, taninos finos e uma subtil complexidade resultante do seu pequeno estágio em boas barricas usadas.
Um vinho muito curioso e sedutor, com um final longo e elegante que, não obstante estar já pronto para ser consumido, revela também um considerável pontencial de longevidade.
Agora que o conheci…este sumptuoso elixir de baco passará a ser seguramente uma presença assídua à minha mesa.
Nota Pessoal: 17                                                              P.V.P.: 12 - 13 €

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

BÉTULA 2008


Região: Regional Duriense
Produtor: Jerónimo Montenegro
Enólogo: Francisco Montenegro
Castas: Viognier (50%) e Sauvignon Blanc (50%)
Vol. Àlccol: 13,5%
P.V.P.:  12 € – 14 €


Produzido na Quinta do Torgal, situada em  Barrô, em pleno Vale do Douro, este vinho foi elaborado a partir das castas Viognier e Sauvignon Blanc. Plantadas em magníficos solos graníticos e beneficiando já de um micro-clima de transição, estas uvas de origem francesa foram fermentadas de forma distinta antes de serem loteadas. A Viognier (casta com muito para dar e pela qual sou apaixonada) foi fermentada em barricas novas de carvalho francês, com batonnage semanal e a Sauvignon blanc (bordalesa de nascença, mas muito usada no Vale do Loire e também em países do chamado Novo Mundo) foi fermentada em cuba inox, a baixas temperaturas.

Pese embora seja uma acérrima defensora da utilização e divulgação das castas portuguesas, afinal de contas somos detentores de um vasto património ampelográfico, havendo mesmo quem afirme que se trata do maior acervo de espécies de uva da vitis vinifera existente no mundo (mas nisso já não acredito, pense-se em casos como o da Itália por exemplo!), a verdade é que também vejo com bons olhos a utilização de castas oriundas de outras paragens. Como consumidora que sou, e vendo o mercado já muito saturado com coisas cada vez mais iguais, apraz-me encontrar de quando em vez uma boa novidade vínica.

Provado incialmente a solo e depois maridado com um belo rodovalho no forno, este bivarietal revelou um  nariz onde ressaltam de imediato os  seus aromas mais vegetais, prontamente seguidos de deliciosas sensações a fruta madura como pêssego e melão e outra mais tropical a fazer lembrar o abacaxi e a manga.
Apresentando-se com aromas evidentes mas nada exagerados à madeira de carvalho francês onde a Viognier estagiou, com destaque para uns leves tostados e alguma baunilha, este vinho sobressai essencialmente pela sua exímia proporção fruta barrica.
Na boca mostra-se cheio e fresco, com uma ligeira untuosidade muito bem sustentada por uma acidez vibrante. Também aqui se faz sentir a sua fruta de boa qualidade e ainda um notório mineral proveniente das terras graníticas, os quais, felizmente, não foram minimamente beliscados pelos fumados da madeira.
Um vinho apelativo que nos surpreende a cada instante, resultado não só de uma vinificação cuidadosa e criteriosa a que o Francisco Montenegro nos tem vindo a habituar, mas também da qualidade da sua matéria prima. Uvas maduras e sãs pertencentes a castas muito distintas, que neste vinho se envolveram numa harmonia perfeita. 
Quando pensamos que o conseguimos compreender, ele revela-nos novas facetas dos seus aromas e sabores. Um vinho que sofre constantes mutações ao longo da prova mas sempre com uma sofisticação e uma delicadeza absolutamente sui-generis. 
Um vinho cuja complexidade não deixa que a fruta ou o carvalho dominem o conjunto, nem que a força supere a elegância. Um vinho impoluto, sem qualquer mácula,...um vinho que me deixou completamente rendida aos seus múltiplos encantos.

Nota pessoal: 17,5

domingo, 15 de novembro de 2009

VALLE PRADINHOS BRANCO 2008

Região Trás-os-Montes
Produtor: Maria Antónia Pinto de Azevedo Mascarenhas
Enólogo: Rui Cunha
Castas: Gewurztraminer, Riesling e Malvasia Fina
Vol. Álcool: 13,5%
P.P.V.: +/- € 9,50

A Quinta de Valle Pradinhos está situada nas Montanhas Transmontanas, perto de Macedo de Cavaleiros, numa área de Portugal que iniciou a sua produção de vinhos em tempos medievais durante o nascimento da Nacionalidade Portuguesa.
Este vinho nasceu da paixão de um homem pelas castas Gewurztraminer, oriunda do norte da Itália mas que encontrou na região francesa da Alsácia o seu habitat de eleição e pela casta Riesling, a grande dama da Alemanha.
A este blend de castas estrangeiras juntou-se ainda a nossa bem conhecida casta Malvasia Fina, que vem conferir um cunho mais “nacional” ao seu conjunto aromático global.
Já andava à procura deste vinho há quase dois anos. Muito tinha ouvido falar dele. Só maravilhas e elogios. Tanto tempo esperei que… confesso, até já me tinha esquecido dele. Mas eis que o encontro, completamente sem querer, assim meio por acaso, se é que o acaso existe…?!
Com um nariz muito perfumado e intenso, este vinho mostra-nos toda a sua pujança aromática logo à entrada, sem medos nem complexos, remete-nos desassombradamente para refinadas e deliciosas sensações florais. Mas serão mesmo flores…? Ou serão as tão peculiares lichias típicas da casta Gewurztraminer a falarem mais alto? De seguida invadem-nos as suas notas de pêssegos, de alperces maduras e de mangas acabadas de laminar.
Com algumas notas cítricas e simpática mineralidade, este vinho possui também uma boca muito viva, com elevada frescura e um corpo médio mas robusto.
Com uma acidez desconcertante, este vinho detém um final de boca de grande persistência, com uma doçura floral nada enjoativa que teima em não nos largar!
Um branco ousado e invulgar, que sem grande dificuldade se impõe pela diferença e que eu saiba, sem qualquer semelhante à altura…                                       
Nota pessoal: 17

VINTAGES 2007 – SYMINGTON FAMILY ESTATES

O ano 2007, não obstante a humidade e precipitação que se fizeram sentir nos meses de Junho e Julho, acabaria por se revelar um excelente ano vitícola.

Um ano de grande regozijo e exultação, em que todos ou quase todos declararam convictamente Ano Vintage, declaração clássica pela qual há muito se esperava.
Uma colheita efectivamente atípica e gloriosa, que nos proporcionou Vintages de elevadíssima qualidade. Vinhos de grande nobreza e harmonia, vinhos extremamente equilibrados e sofisticados que até nos fazem duvidar da sua tão tenra idade.

Os Vintage são vinhos de uma só colheita, vinhos raros e excepcionais, produzidos em anos de qualidade superior e engarrafados muito cedo, entre o segundo e o terceiro ano pós colheita.

São vinhos de lote, lote de castas mas geralmente também de lote de quintas, pertencentes à família de Vinhos do Porto designada por Ruby e que se caracterizam pela sua cor granada (rubi), pelos seus aromas predominantemente primários, provenientes da fruta e pelo seu envelhecimento em garrafa, num ambiente muito fechado e com muito pouco contacto com o oxigénio.

Podendo ser consumidos desde logo, estes vinhos possuem também uma notável capacidade de envelhecimento em cave, onde ao longo de décadas vão desenvolvendo poderosos aromas e o sublime sabor opulento que caracteriza um Porto Vintage maduro.

Estes três Vintages de que irei agora falar, são produzidos pela Família Symington e foram recentemente provados na garrafeira Wine o’Clock de Matosinhos, numa prova conduzida pelo enólogo Charles Symington.


DOW’S VINTAGE 2007
Com uma cor muito negra e compacta, este vinho apresenta uma estrutura e uma concentração francamente notáveis.
Vigoroso e tenso, austero e sisudo, este Vintage prendeu-me de imediato aos seus encantos musculados. Com aromas a frutos silvestres, como amoras e cassis, revela ainda elegantes notas vegetais e minerais.
Na boca apresenta taninos fortes e sólidos, acompanhados de uma acidez de acertado requinte.
Complexo e com alma, este Dow’s 2007 é um Vintage tendencialmente mais seco e faz adivinhar uma longevidade que nada nem ninguém lhe poderá seguramente usurpar.
Um Vintage absolutamente colossal. 
P.V.P.: +/- € 52,00                                                                                                 Nota pessoal: 19


GRAHAM’S VINTAGE 2007

De cor densa e quase impenetrável à luz, este Vintage apresenta um nariz inebriante com aromas a fruta preta e compotada, com notas balsâmicas e ainda uma suave menta e um perfumado eucalipto a acompanhar.
Com uma boca cheia e aveludada, este vinho mostra-se muito extraído e rico, com taninos finos e sedosos.
Um Vintage dócil e macio que poderá ser consumido desde já, apesar de possuir uma vida muito longa pela frente.
Um Vintage de porte aristocrático, com carácter e com postura. Um vinho de uma elegância arrasadora…um vinho galanteador!
Seguramente um dos melhores Vintages desta colheita.

P.V.P.: +/- € 57,00                                                                                                 Nota pessoal: 18,5


QUINTA DO VESÚVIO VINTAGE 2007
A sua cor é muito carregada e densa, quase negra. O seu nariz apresenta-se muito completo e complexo, com muita fruta madura em evidência. Muito vegetal, com a habitual esteva duriense à cabeça, este vinho presenteia-nos ainda com elegantes notas minerais e uma deliciosa pimenta preta a fechar o seu conjunto aromático.
Na boca mostra-se muito concentrado e encorpado, com taninos finos e polidos, muito sofisticado e com uma textura vigorosa.
Um vinho muito bem feito e sem excessos, que possui um final terrivelmente harmonioso e portentoso.
Este Vintage possui também a particularidade de ter sido pisado a pé, em lagares tradicionais, com a participação de todos os elementos da família Symington directamente ligados à produção de vinhos do Porto.
Um vinho de Quinta, que nos revela de forma ostensivamente perfeita, a magnanimidade do seu terroir.
P.V.P.: +/- € 55,00                                                                                                 Nota pessoal: 18

terça-feira, 10 de novembro de 2009

POEIRA - Prova de Vinhos na Garrafeira Wine o' Clock, Matosinhos


Região: Douro
Produtor: Jorge Nobre Moreira
Enólogo: Jorge Nobre Moreira


Jorge Moreira foi enólogo da Real Companhia Velha durante alguns anos, casa onde, aliás, adquiriu vasta experiência.
A determinada altura, sentiu a necessidade de iniciar um projecto individual onde pudesse aplicar as suas próprias ideias e produzir vinhos que conseguisse chamar de realmente seus.
Comprou uma pequena quinta no Douro e o primeiro resultado desse projecto foi o Poeira 2001.

A Quinta do Poeira está situada em Provesende, ao longo de uma encosta no vale do Pinhão, na margem direita do rio com o mesmo nome. Uma enorme e velha moradia, rodeada por vinha, oliveiras e floresta, inserida numa paisagem de cortar a respiração, intensa e deslumbrante. O proprietário considera “que é um dos melhores vales de vinha do Douro”.

Em 2004, quando estava a preparar o terreno para nova plantação, Jorge Moreira deparou-se com um hectare de terreno com um solo completamente diferente do resto da quinta, mais fundo, menos pedregoso, mais fértil e com maior disponibilidade de água. Uma parcela situada numa zona mais abrigada, com menor número de horas de exposição solar.
Pareceu-lhe então evidente que, não obstante tratar-se de um terreno classificado como letra A (terrenos com apetência ideal para a produção de vinho do Porto), tinha pela frente uma oportunidade de produção de uvas brancas de excelente qualidade.

Os vinhos de que vos vou aqui falar representam as novas colheitas deste projecto e foram recentemente provados na garrafeira Wine o’ Clock de Matosinhos, numa prova conduzida pelo próprio Jorge Nobre Moreira.


PÓ DE POEIRA BRANCO 2008
Castas: Alvarinho (65%) e Gouveio (35%)
Vol. Álcool: 13,5%
P.V.P.: – 16,00 – 17,00 €
De inicio mostrou-se algo vincado pela madeira, culpa do copo demasiado estreito e do pouco tempo que teve para respirar.
Mais acomodado ao seu vasilhame e já devidamente agitado, este branco começou então a revelar a sua enorme mestria.
Com grande impacto aromático, onde predominam notas cítricas e minerais, este vinho possui um nariz com um conjunto bastante elegante e harmoniosamente integrado.
Na boca mostra-se igualmente elegante, com leves toques limonados, outros mais especiados e ainda um certo vegetal amargo ao fundo.
Com uma acidez muito viva e uma frescura que se faz sentir em toda a linha, este vinho mostra-se muito afinado e sem qualquer máscara.
Um branco diferente, muito expressivo e cheio de carácter.                        
Nota Pessoal: 16,5


PÓ DE POEIRA TINTO 2007
Castas: Touriga Nacional e Souzão
Vol. Álcool: 14%
P.V.P.: 16,00 – 17,00 €
Este vinho beneficiou do grande investimento feito nas vinhas novas, umas vinhas pensadas para ele, nascidas do pó e da poeira, da austeridade e da nobreza das terras durienses.
Com um estágio de doze meses em barricas, este vinho revela de imediato as suas notas adocicadas de baunilha e chocolate que tanto agradam à generalidade dos consumidores.
Muito concentrado e bem desenhado, este vinho, sem querer tirar todo o protagonismo ao seu irmão mais velho, mostra-nos um aroma fino e delicado, com a fruta de muito boa qualidade em evidência. Realço as suas notas de frutos silvestres a lembrar amoras e framboesas e algumas notas que até parecem de baga de sabugueiro.
Apresenta uma prova de boca muito atractiva, manifestando um perfil harmonioso e delicado, com taninos sedosos e uma frescura empolgante.
Com um conjunto muito envolvente, este vinho, de raro equilíbrio e subtileza, poderá e deverá ser consumido desde já, pese embora também me pareça ser detentor de considerável capacidade de envelhecimento. 
Nota Pessoal: 16,5

POEIRA 2007
Castas: Vinhas velhas com castas tradicionais misturadas e Tinta Roriz, a Touriga Franca, a Touriga Nacional, o Sousão e a Tinta Barroca.
Vol. Álccol: 14%
P.V.P.: +/- € 35,00
Excelente representante do afamado vigor do Douro, este tinto, que estagiou em barricas de carvalho francês durante 16 meses, foi produzido a partir de castas enxertadas em vinhas velhas (castas tradicionais misturadas) e de castas provenientes de vinhas mais novas, tais como a Tinta Roriz, a Touriga Franca, a Touriga Nacional, o Sousão e a Tinta Barroca.
Apresentando-se ainda bastante autoritário e musculado, este vinho revela contudo uma métrica muito precisa e um compasso extremamente regular.
Com uma complexidade, profundidade e concentração absolutamente fora do normal, presenteia-nos com um bom recorte aromático, onde as notas vegetais se fazem sentir de imediato, misturadas com toques minerais e fruta madura de muito boa qualidade.
Um vinho cheio, melodioso e bem proporcionado, que termina de forma persistente e nos comprova aquilo que poderá ser o resultado de uma maturação “quase” perfeita...                    
Nota Pessoal: 17                                                                                                 Olga Cardoso

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

FP ENSAIOS BRANCO - ARINTO E BICAL 2007


Região: Beiras
Produtor: Filipa Pato
Enólogo: Filipa Pato
Castas: Arinto (50%) e Bical (50%)
Vol. Álcool: 12%
P.V.P.: +/- € 6,00

Filipa Pato é uma das enólogas da nova geração que mais tem dado que falar nos últimos tempos. Filha de um dos mais conhecidos e respeitados produtores de vinho da Bairrada - Luís Pato, cedo abandonou o proteccionismo das “asas” paternas e lançou-se em arrojados voos a solo.
Com formação académica em engenharia química, a Filipa iniciou a sua carreira profissional com um périplo por países muito fortes no que concerne à produção de vinhos - França, Argentina e Austrália. Quando voltou decidiu aplicar toda a experiência e know-how adquiridos na elaboração de vinhos próprios, que ela própria define da seguinte forma: São vinhos complexos, com capacidade de envelhecimento, mas que estão mais próximos do público jovem, ou seja, frutados mas com complexidade.
A Filipa Pato tem-se tornado, efectivamente, numa grande referência regional e nacional, capaz de produzir vinhos irreverentes e originais, vinhos que respondem pelas suas origens e pelo seu terroir e que, tal como ela, detêm uma personalidade muito própria.
No que ao vinho objecto desta nota de prova diz respeito, devo dizer-vos que ele me surpreendeu pelo seu lado bem disposto, pela sua postura alegre mas ao mesmo tempo séria e sensata. Uma espécie de compromisso entre a modernidade e a tradição. Aliás, associar técnicas inovadoras a algumas práticas tradicionais na vinha e na adega, espelham não só a prática diária desta enóloga, como também a sua filosofia.
Estamos realmente perante um vinho muito bem feito, que exibe uma cor de um forte amarelo palha esverdeado, onde os aromas frutados de lima e limão, provenientes da casta Arinto, estão bem presentes, mas onde notas mais cremosas e caramelizadas oriundas da casta Bical também se fazem sentir com igual intensidade.
Com evidentes toques minerais, este vinho revela uma boca com um corpo assaz robusto mas muito bem sustentado por uma notável acidez.
Um vinho bem estruturado e gastronomicamente versátil, que nos deixa um final de boca macio e algo frutado.
Este néctar é parcialmente fermentado (cerca de 30%) em barricas de carvalho francês já usadas. De facto, a Filipa sabe usar a madeira com a devida subtileza e nunca faz acréscimos de açúcar ou ácidos ao mosto para compensar deficiências que em alguns anos, as alterações climáticas possam provocar.
Um vinho alternativo, que traduz correctamente as nobres características de textura, corpo e equilíbrio conferidas pelos melhores solos argilo-calcários.
E se filho de peixe sabe nadar…filho de pato, não só nada muito bem com também voa na perfeição...!
Nota: 16,5                                                                                   Olga Cardoso

domingo, 1 de novembro de 2009

VINHA OTHON RESERVA 2006

Região: Dão
Produtor: António Canto Moniz
Enólogo: João Paulo Gouveia, Carlos Silva e Miguel Oliveira
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen
Vol. Álcool: 14%
P.V.P.: +/- € 15,00

E porque são os vinhos apaixonantes que me movem e me compelem para a escrita, não podia deixar de partilhar com todos vocês as minhas impressões sobre o que de mais nobre e elegante se poderá fazer em Portugal – Vinha Othon Reserva 2006 - um verdadeiro Cavaleiro Andante dos vinhos portugueses.
Se procuram vinhos alternativos, se se sentem atraídos por novas descobertas, se buscam aventuras vínicas de infindável prazer, estou certa que na companhia deste vinho irão conseguir concretizar todos esses desejos.
Este vinho chega-nos da tão injustamente ostracizada Região Demarcada do Dão, mais concretamente da Quinta da Cruzadinha e é elaborado a partir das nobres castas, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Jaen, enxertadas em vinhas velhas, com mais de 50 anos.
Como muito poucos conseguirão, este vinho possuí o condão de nos transportar ternamente no seu colo e de nos conduzir pelas suas próprias mãos até às mais puras sensações de profunda harmonia e de um equilíbrio emocionante.
De um intenso vermelho rubi, este tinto mostra-nos um nariz com muita fruta madura e franca, onde se sentem de imediato as groselhas, as ameixas e os mirtilos.
A sua madeira de boa qualidade está tão bem integrada que nem se sente. Será um defeito? Não, é seguramente uma qualidade!
A sua boca seduz, desde logo, pela sua notável acidez, pela sua delicada frescura e pelos seus taninos redondos, de uma elegância absolutamente irrefutável.
O seu final é descomunalmente marcante e persistente, parecendo até que todas as suas deliciosas sensações de boca não nos querem deixar partir.
Um exemplo ímpar de enorme complexidade e de grande concentração.
Um vinho com um porte aristocrático, onde a austeridade, a delicadeza e a sobriedade são adjectivos a ter em conta.
Estamos indiscutivelmente perante um tinto de grande personalidade, um tinto de enorme carácter, um vinho que consegue ser simultaneamente avassalador e comovente, atenta toda a graciosidade e grandiosidade com que nos presenteia.
Se este vinho não nos ajuda a atingir o sétimo céu, deixa-nos seguramente lá próximo!
Um grande tinto português.        
Nota: 17,5                                                      Olga Cardoso