quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

QUINTA DO PORTAL - TERCEIRO E ÚLTIMO ACTO


Começo esta minha exposição pedindo que me perdoem por mais uma vez publicar um post sobre a Quinta do Portal. Reconheço que esta é já a terceira publicação consecutiva sobre esta Quinta Duriense, mas devo confessar que as histórias e/ou as estórias (discussão tão em voga nos nossos dias) contadas em três partes, sempre me seduziram.
Desde as clássicas tragédias gregas que Aristóteles entendeu dividir em três actos, Prólogo, Episódio e Êxodo, passando pelas grandes trilogias cinematográficas como são o Azul, Branco e Vermelho do Kieslowski ou mais recentemente o Senhor dos Anéis do Peter Jackson e terminando ainda nos fabulosos Hat-trick dos jogadores de futebol, de facto tudo me atraí neste fantástico número que é o três…!
Explicado que julgo estar este meu fétiche por trilogias, passo então a transcrever para aqui aquela que é tão somente a minha opinião sobre alguns dos vinhos desta produtora que tenho vindo a provar.
Porque a visita que fiz à Quinta remonta já ao passado mês de Novembro, entendi adquirir e voltar a provar os vinhos de que agora vos falo, não fosse uma eventual perda de memória ou a inerente mutação dos mesmos, trair as impressões pessoais com que então fiquei.

QUINTA DO PORTAL RELATO BRANCO 2008


De cor amarela cítrica, este vinho de perfil jovem e fresco, resulta de um blend de três castas muito utilizadas no Douro, como são o Gouveio (50%), a Malvasia Fina (45%) e o Viosinho (5%).
Com um nariz de boa intensidade aromática, destacam-se neste vinho os seus suaves aromas a laranja e limão, muito bem envolvidos por boas sensações florais e ainda por ligeiras notas vegetais.
Na boca mostra-se muito fresco e seco, com corpo médio e uma acidez que o sustenta de uma forma muito bem conseguida.
Revelando ainda um certo travo mineral, este branco apresenta uma prova de boca bastante elegante e demonstrou ser um parceiro ideal para acompanhar pratos de peixes magros e mariscos diversos.

Nota pessoal: 16

QUINTA DO PORTAL LATE HARVEST 2007


Ao contrário do que tem vindo a ser habitual neste género de vinhos, este late harvest da Quinta do Portal é um vinho de lote, resultante da junção de diferentes castas com especial preponderância da Rabigato e da Moscatel.
Tendo fermentado e estagiado em barricas usadas de carvalho francês, este vinho possuí um enorme impacto olfactivo, exalando poderosos aromas a compotas, mel e frutos secos.
Sendo ainda evidentes aromas a frutas em calda, tais como pêssegos e nectarinas, este colheita tardia revela grande harmonia e profundidade, com todas as suas componentes muito bem interligadas.
Doce e untuoso, com uma acidez que eu me arriscaria a apelidar de electrizante, este vinho, complexo e bem estruturado, termina de forma macia e persistente.
Uma belo colheita tardia, que nasceu da vontade e da necessidade de satisfazer os consumidores, mas também e indubitavelmente, das mãos e da mestria de quem o soube fazer.
Estabelecendo uma maridagem perfeita com o clássico foie-gras e com doces ditos conventuais, não deixem, contudo, de o saborear a solo e sentir aquilo a que eu chamo o verdadeiro vibrar das emoções.

Nota pessoal: 17

QUINTA DO PORTAL TOURIGA FRANCA 2001

Este vinho da Quinta do Portal é elaborado unicamente a partir de uma das castas mais plantadas no Douro - a Touriga Franca ou Touriga Francesa.
Fazendo parte do grupo das cinco grandes castas recomendadas para os vinhos do Porto, nos últimos anos temos assistido à sua abundante plantação também na Bairrada, Estremadura, Ribatejo e Terras do Sado.
Adaptando-se bem a todos os tipos de solos, esta casta precisa, contudo, de muito calor para atingir bons graus alcoólicos. A Touriga Franca é de fácil tratamento na vinha, com boa maturação e muito regular na produção.
Sendo acusada de fraca longevidade, razão que provavelmente justificará a sua habitual utilização em vinhos de lote, esta casta foi aqui assumidamente usada a solo, numa ousadia e numa audácia que viria a ser premiada por este vinho que, decorridos mais de oito anos sobre a sua colheita, se mostra ainda num sublime estado de preservação.
De cor vermelha-granada intensa, este tinto varietal apresenta um aroma muito sedutor, com fruta madura evidente e explícita, mas também um certo cacau e uma ligeira e deliciosa canela a fechar o seu conjunto aromático.
Perfeito na sua prova de boca, revelando ainda uma notável frescura, este vinho possuí uns taninos já bastantes maduros e macios e uma elegância que nos persegue durante toda a prova. Tendo sido submetido a um estágio de 12 meses em cascos de carvalho francês com um ano, revela uma boa proporção fruta/madeira, com esta última a mostrar-se muitíssimo bem integrada com os demais componentes.
Um vinho de charme e de glamour, feito de perspicácia e de teimosia, onde a rudeza e a rusticidade deram seguramente lugar a uma deleitosa serenidade.  

Nota Pessoal: 16,5                                                                                  

QUINTA DO PORTAL GRANDE RESERVA 2000

Feito de um nobre lote composto por Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, a já respeitável idade deste vinho impôs-me logo à partida uma certa compostura e parcimónia.
Tendo-o escolhido para receber uns amigos e convivas enófilos, num jantar onde me aventurei no serviço de pratos de caça, decidi seguir os sábios conselhos do enólogo da casa e tratá-lo com todos os pergaminhos a que a cartilha nos obriga.
Com todos estes cuidados o resultado só poderia ser surpreendente e retemperador.
Diga-se de boa verdade que tal não se ficou a dever tanto aos pratos servidos, mas sobretudo ao requintado vinho que os acompanhou.
De uma cor que já deixa transparecer a sua idade, este vinho exibe um nariz estonteante tal a panóplia de aromas que concentra. Sem quaisquer vaidades ou maneirismos, este tinto revela aromas a frutas negras e vermelhas de muito boa qualidade, ombreadas por francos laivos balsâmicos e ligeiras notas mentoladas.
Com taninos educados mas ainda muito vivos, este tinto de terras durienses revela uma prova de boca muito consentânea com o seu nariz, esgrimindo grande estrutura e complexidade.
Contemplando-nos ainda com toques de chocolate, especiarias e baunilha, o seu final é longo e duradoiro.
Um vinho sem excessos ou protagonismos exacerbados, que nos oferece uma expressão sincera do seu terroir e nos presenteia com a sua superlativa autenticidade.

Nota pessoal: 17,5                                                                   

8 comentários:

Mário Silva disse...

Para mim, dos brancos comercializados pelo PORTAL, sem dúvida que o RELATO é o melhor, e o mais curioso é que não é o vinho branco mais caro comercializado pela Quinta do Portal

Paulo Coutinho disse...

Caro MS
O Relato nasceu precisamente para uma fatia do mercado Português que reclamava por algo mais mineral, acidulo e seco que o normal Portal. Tem sido bem sucedido cá, e no Brasil. Mas o resto dos mercados de exportação prefere o Portal Branco. No fundo trata-se de um vinho em que tentou desviar o estilo para uma maior elegância e menor volume em boca.
Vamos com a 2ªedição do Relato. A primeira foi em 2007.
Abraço

Pratos de Ouro disse...

Os vinhos são como os casais...

Por detrás de uma grandevinho existe sempre um grande enólogo...

Paulo, esta foi para ti ;)

Abraço

Mário Silva disse...

Caro Paulo Coutinho,

Obrigado pela explicação. O meu gosto nada invalida a qualidade do Portal Branco (antes pelo contrário).

Abraço

Paulo Coutinho disse...

Obrigado Joel. Grande abraço.

Caro MS, Eu percebi o quis dizer. Eu é que acabei por não completar a ideia, que passaria sempre por referir a questão do preço, mas que acaba por estar implícita no que digo. O facto da adaptarmos o processo ao tipo de vinho pretendido, acabou por simplificar e embaratecer o vinho… ganhamos nós e o consumidor, não só no novo estilo encontrado, mas também no custo/benefício. Grande abraço.

NOSSO VINHO disse...

Olga, muito boa tua sequência de posts.
Fiquei impressionado com o trabalho do Paulo Coutinho.
Abraços
Paulo

Unknown disse...

Fico contente por ter gostado Paulo Queiroz.

A todos o meu muito obrigada pela visita e pelos comentários.

Olga

João de Carvalho disse...

Esse Colheita Tardia é um mimo de vinho. Do melhor que tenho provado por terras Lusas.