terça-feira, 30 de outubro de 2012

QUINTA DO VALE MEÃO

Não é todos os dias que vinhos deste calibre passam pelos nossos copos e nos invadem os sentidos! Numa recente viagem ao Douro pude visitar a Quinta do Vale Meão e usufruir de um simpático almoço, na companhia de Francisco Olazabal Filho e variadíssimos wine writers portugueses e espanhóis.  

Pela mesa iam passando várias estrelas, enquanto outras, já abertas…decoravam os móveis de apoio e acicatavam as nossas papilas gustativas! 
Enquanto degustava aqueles vinhos, tentava viajar no tempo e recuar até ao último quartel do século XIX, altura em que Antónia Adelaide Ferreira, contrariando todos os doutos pareceres da época, teimou em comprar aquelas terras inóspitas e “longínquas” para ali fazer nascer uma quinta a que deu o nome de Quinta do Vale Meão. 
Que ousadia e tenacidade! Que instintos visionários moviam aquela mulher que, sessenta anos antes, inaugurou aquele que viria a ser o berço do mais emblemático vinho português – o Barca Velha.
Mas não é deste vinho que agora pretendo falar, até porque desde há largos anos passou a ser vinificado na Quinda da Leda, situada uns quilómetros mais há frente e de cujos “tesouros” falarei oportunamente.
Agora vou apenas deixar aqui o meu testemunho sobre os três VALE MEÃO que mais prenderam a minha atenção.                                                                                                     

QUINTA DO VALE MEÃO 2002
Apesar dos seus 10 anos de vida, apresenta ainda uma notável concentração de cor. Muito afinado, este Vale Meão exibe uma Touriga Nacional em muito bom plano, com os seus aromas florais a marcarem forte presença. Aromas balsâmicos invadem-nos suavemente o nariz, ao que acresce um ligeiro toque mentolado a conferir ainda maior complexidade ao seu conjunto. Na boca marca pela harmonia e equilíbrio, sustentados por uma fina textura de taninos já bastante suaves e reconfortantes. O seu final é muito longo, opulento e poderoso.

QUINTA DO VALE MEÃO 2008
Proveniente de um ano em que as condições climatéricas permitiram uma maturação lenta e sustentada, este tinto duriense impressiona pela sua estrutura bem definida, em que todos os componentes se mostram em perfeito diálogo. Muito mais frutado que o 2002, o seu nariz está profusamente marcado pelas frutas negras, carnudas e maduras, perfeitamente misturadas com as notas de cacau e café que também se fazem mostrar de forma não menos tímida. Com um corpo robusto e seguro, este 2008 mostra-se pujante e exibe uma acidez e uma frescura absolutamente perfeitas…características que lhe determinam uma velhice tardia e plena de charme. Uma verdadeira “luva de seda em punho de aço”!

QUINTA DO VALE MEÃO 2010
O mais jovem membro desta linhagem Duriense, mostra-se muito mais pronto que os anteriores mas sem deixar cair por terra os pergaminhos próprios de tão nobre ascendência. No nariz dominam as frutas pretas maduras e limpas, em perfeita harmonia com as suas notas de barrica. Sensações especiadas fazem-se sentir aqui e ali, fazendo jus à sua complexidade olfactiva e à sua já vaticinada profundidade aromática. Com uma boca muito bem proporcionada, revela possuir um estilo mais “fashion”, mas muito polido e requintado. Fresco, redondo e com uma acidez acutilante, este Vale Meão possui a alma e o coração suficientes para se tornar num dos mais recentes ícones do DOURO.

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